quinta-feira, 14 de julho de 2011


As pipas

Quando Miguel perguntava quem era a sua mãe, ou onde morava o seu pai, o avô tossia para um lado, tossia para o outro, arranjava um resfriado, uma dor nas costas e só lhe respondia: "Ô Miguel, a sua mãe já volta. Daqui um pouco ela volta..." Mas a mãe nunca voltava, nunca.

Ele desmanchando as rabiolas. Ele olhando no portão. A cada laço que desfazia era uma esperança que se soltava, e ele já tinha reparado: quando as pipas voavam embora, elas voltavam para nunca mais.

O avô dizendo: "Ela já volta..." O relógio dizendo: "Ela já volta... " e outra volta e outra volta... o relógio faz volta, mas o tempo, não. A latinha dando voltas na linha. O avô enlaçando o menino nos braços, dizendo que o abraço era só um ponto que a vida dava para costurar o amor.

Escrito por Rita Apoena.

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